“ Agora
vemos em espelho de maneira confusa, mas, depois veremos face a
face.”
Cara
Mariana, resolvi lhe escrever esta carta de desculpas pelas ofensas
que expressei a sua pessoa ao ler pela primeira vez suas cartas ao
Sr. C, ao relê-las percebi o quanto fui injusta e má com relação
aos seus sentimentos, sei que nunca obterei resposta sua ao meu
pedido, essa carta é mais uma foma de tentar compreender você
através das suas palavras, ora de amor, ora de ódio, ora de dor.
Primeiro
quero justificar o motivo de meu pedido de desculpas, ao tornar a ler
suas cartas percebi que meus sentimentos com respeitos a elas mudaram
bastante desde a primeira leitura, antes tinha raiva de você hoje
não sei bem como me sentir com relação as suas cartas e a sua
pessoa, realmente tive muita raiva, mas essa já se dissipou a menos
de 24 horas, talvez no decorrer dessa carta você compreenda o por
quê, já que ela servirá também como um reflexão explicativa.
Não
compreendi os motivos de você não ter parado de escrever logo
depois da primeira carta, eu não teria me exposto tanto e é dessa
sua expossição que mais tenho raiva, ninguém deveria abrir seus
sentimentos com tanto afinco como você fez, mesmo amando
intensamente (como você parecia está). É uma pena não termos como
saber as respostas do senhor C., assim teriamos como analisar os dois
lados da moeda, mas é daí que vem o mistério que envolve sua
história de amor. Talvez você se pergunte por que meu pensamento
sobre você e suas cartas mudaram, porém ainda não sei o verdadeiro
motivo, fiquei conversando com meus botões e nada foi descoberto
apenas mudei e sou honesta em confessar minha mudança, imaginei se
tivesse lido suas cartas quando estava na adolescência, época que
me apaixonava até por uma folha que caísse de uma árvore em minha
frente, época qual eu não era tão racionalista, talvez tivesse
chorado e me comparado a você em sua dor, ódio, amor e
principalmente ansiedade por respostas, pode ser isso, pode ser pela
agonia da ansiedade que eu tenha mudado meus pensamentos e resolvido
lhe escrever, mesmo sabendo que talvez você não tenha existido, mas
como tudo começou com cartas, por que não escreve uma para a mulher
que suas cartas se tornaram uma obra literária estudada em todo
mundo.
Mariana
será que o que você sentia pelo senhor C. era amor ou desejo? Ou os
dois? Para mim você tinha uma concepção dualista pelo senhor C.
você o amava e o desejava, mas qual desses dois sentimentos falava
mais forte? Antes eu tinha certeza que era apenas desejo lhe via como
uma mulher reclusa que teve uma noite de prazer com um homem e não
conseguiu desapegá-se dele e do prazer que ele lhe deu (é apenas
minha opinião ao ler suas cartas pela segunda vez, quem sabe daqui
há alguns anos quando eu torna a lê-las eu tenha outra opinião),
voltando a minha percepção atual, você o amava pelo menos você
diz isso, é claro que o desejo existiu, porém mesmo com a distância
e com o “desinteresse” aparente do senhor C. você continuou a
escrever com a mesma intensidade as outras cartas mesmos essas não
contendo os mesmos sentimentos da primeira, você foi perceverante de
seus sentimentos, persistente na busca de uma resposta que lhe
agradasse, sim, isso mesmo, lhe agradasse, por que mesmo obtendo
resposta elas não pareciam ser suficientes para apaziguar suas
dúvidas, sofrimento e ansiedade, e nem para apagar o fogo de sua
paixão mesmo com toda a demora das cartas resposta.
Dizem
que você amou o senhor C. até seu último suspiro, mas isso pode
ser obra ilusória criada pelos seus fãs que ao longo dos séculos a
transformaram em uma heróina forjada pelo impulso da exposição de
sua paixão através de suas palavras. Seu amor mergulhou no Eros o
que levou a sua felicidade e a tristeza e a sentimentos tão puros e
intensos.
“ Tudo
desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor Jamais
passará.” São Paulo (C. 10-67)
Se
levarmos em consideração essa passagem da biblia, podemos afirmar
que você amou verdadeiramente o senhor C., você o desculpou, você
acreditou que o amor de vocês era forte o bastante para resistir a
todos obstáculos que a vida colocou em sua frente, você esperou
pacientemente e ansiosamente por uma solução, você suportou a
solidão de amar sozinha (para mim só houve paixão e amor da sua
parte), a dor, e a indiferença que como você mesma diz que ele
expressou em “cartas frias, cheias de banalidades e com metade do
papel em branco” mostram que você percebeu que o senhor C. não
com,partilhava dos mesmos sentimentos que você.
O que
posso dizer sobre o senhor dos seus pensamentos o dono dos seus
sentimentos mais intensos, eu particurlamente acho que o senhor C.
não deu a menor importância ao que você sentia por ele, é triste,
eu sei, pensar assim e julgar alguém a quem não conheci, mas essa
carta é uma análise e reflexão, então posso dizer-te o que penso,
os sentimentos do senhor C. com relação a você Mariana (ainda em
minha sincera opinião) eram de dúvidas (se é que dúvida é
sentimento) ele deve ter tido seus motivos, ele deveria ter sido mais
direto em suas cartas (quem sabe ele foi e você em seu desepero de
paixão não quis aceitar isso). Digo que o sentimento era de dúvidas
por que a prova de que existia um sentimento desconhecido, são suas
cartas, que de alguma forma restaram como registro do seu imenso amor
pelo senhor C. (levando em cosideração aqui sua existência e do
senhor C.) alguém deve ter guardado as cartas e as considerado
importantes, mas também alguém pode não ter tido consideração
nenhuma com você nem com seus sentimento ao resolver publicar e
levar ao público o conhecimento do seu amor proibido e do sofrimento
causado por ele, mas ainda bem que alguém fez alguma coisa a
respeito de suas cartas ou não teriamos conhecimento das mesma (as
pessoas gostam de saber o que se passa na vida dos outros ter
conhecimento do que os outros pessam se tornou algo corriqueiro nesse
século, no seu não devia ser muito diferente), acho que você se
odiaria ao descobrir a que fim foi dado as cartas que você dedicou
tão intensamente ao homem que amou.
“Agora, portanto,
permanecem fé, esperança, amor, estas três coisas. A maior delas,
porém é o amor.” São Paulo (C. 10-67)
O amor foi a única
coisa que lhe restou, vou continuar com meus achimos, acho que você
teve muita esperança, e você morava em um lugar que inspirava fé,
quero acreditar que você teve fé principalmente de que todo o
sofrimento causado por esse amor um dia se dissipasse, mas de uma
coisa tenho absoluta certeza você amou.
Mariana, gostaria muito
de que outras cartas suas aparecessem e que nelas constasse que você
o esqueceu e foi feliz apesar de tudo, que casou, teve filhos ou
simplesmente passou seus dias felizes sentada em uma cadeira de
balanço olhando para o mar, porém é algo improvável de acontecer,
agradeço que você ou qualquer outro alguém tenha escrito essas
cartas, minha carta é endereçada a você pelo simples fato de ter
seu nome no livro qual li, mas você poderia ter qualquer nome.
“ O que há em um
simples nome? O que chamamos rosa, sob outra designação teria igual
perfume.”
Shakespeare
Essa carta foi escrita mais para
desperta a curiosidade de quem gosta ler para a história de Mariana
Alcoforado e suas Cartas Portuguesas.
OBS: pode até parece insano, louco,
mas o importante é o que se sente ao escrever.
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