segunda-feira, 4 de julho de 2016

Sonho Febril - George R. R. Martin


Sonho Febril é muito mais que uma história de vampiros é uma história do escravismo e abolicionismo, tanto de si mesmo como dos outros, retratando em conjunto aos movimentos escravocratas e abolicionistas dos Estados Unidos em 1857, quando o pais se encontrava dividido entre os estados que apoiavam a escravidão, os que queriam o fim da mesma e o avanço dos barcos a vapor. Nesse cenário encontramos, entre as linhas detalhadamente escritas por Martin, Abner Mash um dono de vapores (agora apenas um o pequeno vapor chamado Eli Reynolds) que foi assolado pela perda de seus barcos a vapor para o frio. Marsh é um homem sonhador e honesto, tudo que o misterioso, imponente e também sonhador Joshua York quer como sócio.  York procurava alguém em quem confiar para se tornar sócio e comprarem um barco a vapor juntos para poder navegar pelos rios do estado de Louisiana e fazer seu trabalhos sem ter que enfrentar muitos questionamentos, assim torna-se sócio do feioso e quase falido Marsh, uma sociedade que salva a vida dos dois e forma laços de amizade eternos.


Abner Marsh e Joshua York tornam-se donos de um maravilhoso barco a vapor que colocam o nome de Fevre Dream, após ambos se tornarem capitães da Fevre Dream (Marsh diz que o barco é feminino) cada um tem um sonho diferente a ser realizado considerando a existência do barco como meio para alcançarem a realização desses sonhos. O sonho de Marsh é vencer o famigerado barco Eclipse numa corrida de vapores. O Sonho de Joshua  (não dá pra contar pois seria spoiler demais, rsrs).


Nesse enredo em meio ao rio Mississipi  e entre outros rios é mostrado de forma crua e direta  a questão da escravidão no estado do Louisiana, e em alguns momentos a questão da escravidão dos negros se entrelaça com a escravidão e obsessão de Mash em ultrapassar o Eclipse, e a escravidão de York a sua condição de vampiro. 
Em New Orleans os capitães do Eclipse encontram um vampiro chamado Damon Julian (o vilão, toda boa história que se preze tem um "bom" vilão), Damon é inescrupuloso, manipulador e perverso, tem alguns seguidores, assim como Joshua, porém não tem respeito nenhuma pela vida humana (que os vampiros chamam de o gado). Alguns acontecimentos levam Marsh e Joshua se afastarem porém o senso de honradez de  Marsh e seu amor pelo Fevre Dream o faça ser fiel e amigo de Joshua mesmo quando esse mente para ele.
Um dos diálogos que me marcou nessa leitura foi uma conversa entre Marsh e York quando esse fala sobre  seus sonhos e a guerra que se estende entre os vampiros e os humanos, York questiona se o povo de Abner escraviza seus semelhantes apenas por terem um tom de pele diferente o que seria da raça de York que é mais forte, mais rápida e que não tem nada para oferecer além  serem predadores dos humanos. Algum tempo depois Marsh pensa nessa mesma conversa e decide lutar pelo lado abolicionista, mas é lembrado por um de seus empregados, o negro liberto Toby, que falar em liberdade dos escravo em um estado escravista seria a morte.


Para mim a história utiliza uma metáfora para também falar da escravidão de nós mesmos através da obsessão de concretizar nossos sonhos (isso na figura de Abner Marsh), porém o que seriamos sem os sonhos a serem alcançados. E retrata a abolição desses sonhos quando coisas mais importantes como a amizade entra em jogo. Apesar de Marsh e York sempre se tratarem como sócios eles são mais que apenas sócios, durante toda a narrativa vemos o companheirismo entre eles crescer e se tornar amizade.
Nesse mesmo contexto que envolve o escravismo e abolicionismo, temos os dois senhores de poder ambos vampiros, Joshua que em minha visão representa aqueles que lutam pela liberdade e Damon que luta para manter a escravidão tantos dos seus quanto dos outros.

Demorei para terminar de ler esse livro em algumas partes foi doloroso, pois a leitura não fluía se tornava monótona, porém depois da página 200 a leitura ficou mais prazerosa e consegui terminar de ler com os olhos cheios de lágrimas e emoção pois a história se tornou parte de mim.
A honra, lealdade, amizade e cumplicidade entre Abner e Joshua revelada durante a história é montada com uma simplicidade e carinho através da escrita detalhista de Martin. Os capitães do Fevre Dream tornaram-se para mim personagens exemplos de amizade (tal como Daniel Sempere e Fermín Romero de Torres em A sombra do vento). Serão personagens que irei sentir saudades, principalmente de Abner Marsh o capitão mais feio de todo Louisiana, mas o homem mais honrado e apaixonado que o leitor terá prazer de conhecer entre as linhas de Sonho Febril. O final da história é linda os detalhes que Martin nos proporciona, mesmo que as vezes cansativos, deixaram o desfecho magnifico.


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