segunda-feira, 25 de março de 2013

A paixão de Artemísia


Pense em uma narrativa apaixonante, acrescente uma figura histórica forte porém quase desconhecida, adicione 300g de história da arte, misture bem e voilá: A paixão de Artemísia, da escritora Susan Vreeland prontinha para ser consumida, 0 calorias.

A obra segue a trajetória da pintora italiana Artemísia Gentileschi (1593-1653) através da ótica perspicaz de Susan. Aí vão alguns dados sobre a vida dessa célebre desconhecida: Aos 17 anos Artemísia foi violentada pelo seu tutor e amigo íntimo de seu pai, Agostino Tassi.

Levou seu agressor a julgamento, do qual ele saiu "livre, leve e solto", enquanto Artemísia foi humilhada publicamente e torturada durante o processo como forma de provar a "autenticidade" de seu testemunho. Por toda vida Artemísia iria  carregar o estigma do estupro perante a sociedade.

Mas se a justiça dos homens não puniu Agostino, Artemísia tomou para si essa tarefa, e foi através de seus pincéis que ela imortalizou o rosto de seu agressor como Holofernes* na cena em que ele é decapitado por Judith que por sua vez, vejam só... tem o rosto da pintora! 

Moral da história: Nunca irrite um artista.

Logo após o julgamento  foi obrigada a casar por conveniência para salvar o que tinha restado de sua reputação.
Em vida alcançou prestígio inimaginável para uma mulher a época: Pintou para a importante família Médici, manteve uma amizade com Galileu Galilei e foi a primeira mulher de que se tem notícia a ingressar na Academia de Arte de Florença. Ainda assim, Artemísia e sua obra caíram na obscuridade por mais de dois séculos e só agora começa a ser resgatada.

Interessou?

Susan Vreeland é uma das responsáveis na atualidade por trazer a ilustre senhora Gentileschi a nosso convívio.

O que é gostoso nesse livro é que não é uma mera biografia, a autora soube de forma ímpar dar voz a personagem silenciada pela História da Arte, usando a licença poética a seu favor, e nos permitindo imaginar as aspirações, os medos, comemorar as conquistas de uma personagem que viveu a mais de duzentos anos... Lançando luz  à algumas questões: Como Artemísia se sentiu durante o julgamento? E após ele, como continuar a ter uma vida "normal"?

Susan misturou ficção e realidade de uma forma tão "casada" que é árdua a tarefa de dizer onde termina uma e começa a outra.

A leitura é tão agradável que chega a ser indecente!

E para os amantes da história da Arte, a autora ainda nos brinda com uma descrição minuciosa dos quadros da artista, entramos no processo de criação da pintura:
Os braços de Judith tinham de ser assim: mais grossos e mais fortes do que os esboços que fiz, com as mangas arregaçadas também, prontos para um banho de sangue, firmes, na determinação e raiva ao enfiar o punhal no pescoço de Holofernes. (...) Mais do que braços, minha Judith apoiaria um joelho na cama dele, como faz uma camponesa ao matar um porco. (VREELAND, 2010, p. 26)


 Artemísia Gentileschi, Judite Degolando Holofernes, 1620, Florença, Uffizi.


Este é um livro sobre preencher as lacunas, e a última delas será por você, caro leitor. A Paixão de Artemísia: satisfação garantida ou seu dinheiro de volta (rs).



*Ver a história de Judith e Holofernes no livro de Judith, antigo testamento da Bíblia Sagrada.

3 comentários:

  1. :O Que história quero ler esse livro me empreste, me dê ou me diga onde baixar, sua resenha ficou ótima!

    ResponderExcluir
  2. Não conhecia essa artista. Que história interessante, estou super curiosa para ler.
    Grande Beijo!

    Camila - Meu Livro Cor-de-Rosa
    http://meulivrocorderosa.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir